Eu sei. É um sacrilégio. Como pode alguém duvidar da genialidade de Shakespeare? Eu quero dizer, não continuaria sendo mais fácil simplesmente honrar cegamente esse homem do qual pouco sabemos a respeito?
É como Jesus de certa forma. Existe de fato muitas teorias mal explicadas que a igreja criou em volta dele, mas talvez expor que Jesus possa ter sido casado e que ele não era absolutamente perfeito (por ser homem) só causaria grande alvoroço. Às vezes é melhor deixar as coisas como elas estão, porque a maioria das pessoas já tem bastante problemas pessoais para resolver. Ninguém precisa de certas revelações de que Maria poder não ter engravidado após de uma visita de um anjo, da mesma forma como Shakespeare pode não ter sido esse gênio inigualável (sem tocar no assunto de plagiário, como tantas teorias sobre a verdadeira identidade do homem por trás da pena que esquentam tantos debates no mundo todo).
O que eu quero dizer, enfim? Bom, não sou uma autoridade no que diz respeito ao Shakespeare, no entanto de uma coisa sei: ele não merece o crédito sozinho, pelo menos no que diz respeito as peças teatrais. O pouco que estudei sobre o período Renascentista, ou sobre as convenções de teatro da época, era que muito dificilmente um autor trabalhava sozinho. Eles colaboravam com outros autores e atores, pegavam ideias “emprestadas” de trabalhos publicados ou não. Jonson fazia assim, tal como Marlowe, Fletcher e Kyd. Então, por que ignorar o fato de que Shakespeare teve colaboradores também (especialmente sendo ele um ator)? Não machucaria mencionar que ele colaborou com sua tropa “King’s Men” ou seja lá com quem. Hoje, os diretores Ariane Mnouchkine e Robert Lepage sempre mencionam que os trabalhos surgiram de colaboração e ainda são respeitados no ramo como grandes nomes do teatro contemporâneo.
Eu entendo que deve ser difícil para um historiador de teatro ou de literatura de encontrar provas de quem colaborou com quem, mas já que essa informação não pode ser investigada à fundo, dar todo o crédito para um homem não me parece justo. Seria a mesma coisa afirmar que uma pessoa é culpada de assassinato antes dela ser julgada face à várias provas. É mais fácil dizer que uma pessoa matou alguém quando ela só poderia ter matado, no entanto não é moralmente e socialmente correto dizer isso.
Meu ponto é que Shakespeare pode não ter sido esse gênio inigualável pois ele provavelmente teve ajuda de colaboradores. No entanto, ele ainda deve ter sido pelo menos bom naquilo que fazia, senão não conheceríamos seu nome hoje (com ou sem colaboradores). No entanto, eu não estou discutindo a questão da autoria, mas sim da autoria única, porque se provado que ele dificilmente poderia ter desenvolvido as ideais e os diálogos sozinho, talvez Shakespeare não seria visto como um deus hoje, mas só como um homem de grande talento, como Jesus.
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