A cena cultural aqui em Seul é sempre rica, mas especialmente em outubro ela é variadíssima. Festivais de dança, teatro, ópera, encontros culturais entre escultores e leituras de escritores… São os residentes estrangeiros que agradecem, já que 90% desses programas são de grupos de outros-mares de passagem pela capital e as apresentações se não forem em Inglês, serão em Alemão, Francês, Espanhol, Japonês e por aí afora.
Fazendo parte do grupo teatral “Seoul Players”, eu mesmo dirigi cinco peças curtas em Inglês (Hanger, That Word, Bin Laden’s New Direction, Jenny e The Bank Machine). Meus atores são profissionais dedicadíssimos e super talentosos que só aguardam festivais como esse para poderem voltar para o palco.
Mas o que mais me chamou a atenção durante esse mês, não foi necessariamente a qualidade altíssima das produções, mas principalmente o nível de suas realidades, para não chamar de loucura.
Já não é de hoje que o público passou a ser mais exigente, no qual além do simples porém complexo entretenimento esperam por explicações filosóficas, mesmo essas vindo de uma farsa barata. Esse mesmo público deseja ter algo para discutir com o fim do programa, e não somente sair do teatro e dizer: é, foi legal.
Agora será que a tendência de fazer o público sair falando bem ou mal, mas falando a respeito daquilo que viram, seria apostar em produções experimentais mas ao mesmo tempo de sucesso? Então por que as chamo de experimentais? Por que chocar passou a fazer parte da rotina cultural contemporânea. Aquilo que não choca não tem graça.
Quem sabe Sheakspeare já não se deu conta dessa receita na sua época de ouro…
Falar de sexo deixou de ser tabu há muito, mas há muito tempo, mesmo antes de garotas de programa resolverem publicar livros a respeito. Então o tema quente de hoje parece ser a loucura em si, o sub-consciente dos nossos seres, a nossa sufocadora vontade de sermos livres, de corpo e alma, de fazermos aquilo que nos dá vontade sem nos importarmos com aquilo que os outros vão dizer ou pensar. E essa loucura tem ramificações: espirituais e até culturais, quando neste caso pegamos uma peça escrita há tantos e tantos anos e fazemos dela uma produção atual, com um novo ponto de vista, e novas interpretações para as entrelinhas.
Talvez mencionar a palavra loucura neste contexto não seja politicamente correto, mas diferente do que o dicionário Aurélio ou dos seguidores de Freud tenham como conceito, o meu é que a loucura não é uma doença, mas sim uma forma de liberdade, porque mesmo os leigos concordam, que tudo ou todos aqueles que nadam contra a corrente são “loucos” de alguma forma.
Por isso, proponho um brinde à nova onda cultural! Que ela se liberte cada vez mais das regras de fazer as coisas de acordo com aqueles que tem medo de se libertarem, nem que seja uma vez ou outra, dessa ou daquela maneira…
Luciana B. Veit
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